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o exorcismo

 não quero vir para aqui escrever sobre a avó que fazia o melhor cabrito do mundo, nem sobre o cheiro a maçãs maduras da sua casa nalguma cidade beirã. tudo muito lindo, mas já toda a gente sabe e de memórias fofinhas refrescadas está o inferno cheio. não. quero escrever, acho eu, quero escrever hoje, sobre essa mesma avó fazer questão de chorar à mesa todos os natais, não fosse dar-se o caso de alguém se estar a divertir demasiado e a esquecer-se de lhe reservar o lugar de centro das atenções. quero falar sobre a avó enquanto mãe que tinha tanta inveja de ter uma filha jovem, de olhos azuis, bela e dourada, inteligente como poucos, prestes a formar-se médica, que fez questão de a convencer, todos os dias e para sempre, que era feia e que um dia agarrou num disco que essa filha havia comprado com as pequenas poupanças de um trabalho a tempo parcial como livreira, e lho partiu de propósito. um disco de vinil do cat stevens, uma imperdoável pequena alegria. não, escrever não é fofinho. e